O Banco Central (BC) voltou a comprar dólares no mercado à vista, mostrando sua disposição para segurar a valorização do real, mas, ontem, só impediu um recuo maior. O dólar comercial fechou no menor valor do ano, a R$ 1,705, queda de 0,11%. As expectativas de mais entradas de capital, como investimentos estrangeiros e captação de empresas brasileiras, falam mais alto. Ontem, o Banco do Brasil (BB) captou mais US$ 750 milhões com a emissão de títulos no mercado externo.
Com a operação do BB, o total levantado desde o início do ano por companhias brasileiras e pelo governo subiu para US$ 16,525 bilhões, segundo dados da agência Bloomberg News.
Desde que começou a intervir no mercado para evitar a apreciação do real, o BC já comprou cerca de US$ 7,6 bilhões, segundo levantamento da corretora BGC/Liquidez. Apenas ontem foram US$ 350 milhões, nessa estimativa.
As intervenções no mercado à vista somariam US$ 890 milhões. Na semana passada, houve também um leilão de swap cambial reverso (operação equivalente à compra de dólar no mercado futuro), no qual a autoridade monetária colocou 3,5 mil contratos, no valor de US$ 175 milhões.
BC enxugou operação
da Petrobras
A maior intervenção, porém, foi feita com operações de compra a termo, nos dias 3 e 8. Alfredo Barbutti, economista da BGC/Liquidez, calcula em aproximadamente US$ 6,5 bilhões as compras nesses leilões. A compra a termo é feita no mercado à vista, mas com outra data de liquidação. As operações de câmbio à vista são efetivadas em dois dias úteis; na compra a termo, é definida uma data mais à frente.
Segundo operadores do mercado, grande parte das compras a termo foi usada para enxugar a entrada dos dólares referentes à captação externa da Petrobras. Em fevereiro, a petroleira levantou US$ 7 bilhões com emissão de títulos, a maior a uma operação já feita por uma empresa brasileira.
Na captação de ontem, o BB repetiu uma operação feita no mês passado, até então inédita, com venda de títulos perpétuos - sem vencimento. Esses papéis terão o mesmo comportamento de ações da instituição. Na hipótese de ela ir mal e não pagar dividendos aos acionistas, não haverá pagamento de juros e nem mesmo a parcela principal. Na operação de ontem, a taxa de retorno ao investidor ficou em 8,48%, abaixo dos 9,25% da primeira parte da operação, que captou US$ 1 bilhão.
Dessa vez, a demanda pelos títulos chegou a US$ 4,7 bilhões. Em janeiro, a procura pela aplicação foi de US$ 6,3 bilhões.
Com as captações em alta, Barbutti, da BGC/Liquidez, chama atenção para o fato de o BC ter comprado menos dólares do que o fluxo de divisas para o país. Em janeiro, o saldo entre entradas e saídas ficou em US$ 7,3 bilhões. Até 17 de fevereiro, entraram mais US$ 6,5 bilhões. Além disso, parte dos US$ 16,5 bilhões captados pelas companhias ainda pode estar para entrar.
- Fevereiro não está tendo tanto fluxo (quanto janeiro), excluindo a operação da Petrobras. Pelo visto, a expectativa é um componente importante do recuo do dólar - diz Barbutti.
Por isso, para o gerente de câmbio da corretora Icap Brasil, Ítalo Abucater dos Santos, o BC precisará comprar dólar "de forma mais enérgica". Segundo ele, o caminho será o mercado futuro, com mais leilões de swap cambial reverso. Isso porque a compra à vista funciona nos dias de entradas, mas a questão é conter as expectativas de mais entradas de dólar.
Ações da Marfrig sobem com reestruturação
O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), recuou ontem 1,06%, aos 65.241 pontos, seguindo o pessimismo do mercado europeu. Ainda com temores em relação ao impasse para a situação da Grécia e à dificuldade de os líderes da União Europeia concordarem em aumentar seus fundos de resgate, recuaram as bolsas de Londres (0,33%), Paris (0,74%) e Frankfurt (0,22%).
Nos Estados Unidos, dados positivos sobre o mercado imobiliário reduziram um pouco o pessimismo. Subiram os índices S&P 500 (0,14%) e o Nasdaq (0,08%), enquando o Dow Jones ficou estável, com queda de 0,01%.
As ações ordinárias da Marfrig tiveram a maior alta do Ibovespa: 7,15%, a R$ 9,89. A companhia anunciou uma reestruturação e vai fundir, numa só unidade, a Seara Foods, as operações de aves, suínos e alimentos processados. Segundo a empresa, a sinergia poderá gerar ganhos com sinergias de até R$ 330 milhões por ano nos próximos cinco anos. A empresa comprou cerca de 30 companhias nos últimos quatro anos, incluindo a Seara Alimentos em 2009 (por US$ 706,2 milhões) e a Keystone Foods, fornecedora da rede de fast food McDonald"s (por US$ 1,26 bilhão) em 2010.