Seguindo a tendência do mercado, o volume de serviços prestados no Brasil teve queda recorde de 11,7% em abril, na comparação com março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Embora esteja longe de sinalizar alguma estabilidade, há quem diga que o setor vem demonstrando uma melhora gradativa. Um monitoramento feito pelo aplicativo de contratação de serviços GetNinjas mostra os impactos da covid-19 entre os prestadores autônomos desde o início de março e indica que a demanda por serviços aumentou 15,3% entre o dia 31 de maio a 6 de junho, em comparação com os dias 8 a 14 de março, período em que a crise não havia atingido o setor ainda.
O material sugere que tal aumento seja reflexo da mudança de comportamento do consumidor e também da readequação de muitos profissionais que criaram alternativas em meio à crise. Foi exatamente esse movimento que inspirou o programa SOS Empreendedor, do Fórum de Jovens Empreendedores (FJE) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na última terça-feira (23/6).
Sob o comandado de Alessandra Andrade, vice-presidente de relações com a juventude e inovação da ACSP e gestora do FAAP Business Hub, e Nando Gaspar, coordenador geral do FJE, o quarto episódio do SOS Empreendedor trouxe estratégias dos setores de serviços, ensino e de vendas para driblar a crise e iniciar a retomada.
A NOVA GUINADA DA DRYWASH
Com três frentes de negócios, a DryWash, empresa de lavagem automotiva a seco, sentiu os efeitos da pandemia logo de cara. O isolamento diminuiu drasticamente o número de veículos nas ruas, e por sua vez o uso de automóveis, que estacionados não precisaram de manutenção.
Ao mesmo tempo em que as lojas que oferecem serviço de limpeza foram fechadas, a adesão de novos franqueados caiu, e a indústria química não tinha demanda para produzir, o e-commerce da marca começou a crescer, especialmente pela procura por produtos de serviço de limpeza.
Com o novo cenário e a maior preocupação em manter os ambientes limpos, Lito Rodriguez, fundador da DryWash identificou uma oportunidade para fortalecer os negócios em meio à pandemia. Com parte de sua produção parada, o empresário decidiu investir em um novo produto, o álcool gel.
Muito procurado no momento, a boa aceitação da nova produção foi determinante para que Rodriguez se acalmasse e repensasse o que faria dali em diante. A primeira atitude veio logo no início da pandemia – aderir ao home office.
“Tinha dez ideias por dia e não conseguia colocar nenhuma em prática de forma eficiente. Com o trabalho remoto, as reuniões começaram a ser bem produtivas e o novo modelo de operação passou a funcionar bem porque as pessoas estavam satisfeitas por estarem seguras trabalhando em casa”.
Em seguida, Rodriguez adiantou medidas que seriam praticadas ao longo do ano em busca de redução de custos. Pediu uma redução de 50% no aluguel deste ano para o dono do imóvel onde funcionava o escritório. Com a proposta recusada, não perdeu tempo tentando negociar, se mudaram para um lugar mais barato. Os treinamentos começaram a acontecer on-line, uma ação que também já estava para ser colocada em prática e que irá se perpetuar.
De acordo com o empresário, rever as principais despesas do negócio logo no início da pandemia, como, os custos com aluguel e se utilizar das alternativas oferecidas pelo governo, deram fôlego para que a empresa se mantivesse ativa sem reduzir mão-de-obra, ainda que sem o mesmo volume de demanda.
MAPLE BEAR E A EDUCAÇÃO 2.0
Muito afetado pelo isolamento, o setor de educação teve que basicamente reconstruir um sistema de ensino novo e digital. Com as escolas fechadas, muitas tiveram de lidar com o cancelamento de matrículas, negociações de mensalidades, e uma série de decretos e normativas que entraram em vigor de forma muito rápida, causando enorme impacto no mercado.
Convidado pelo SOS Empreendedor, Arno Krug, CEO da rede Maple Bear, escola bilíngue que usa metodologia de ensino canadense, com 140 escolas no Brasil e quatro no México, precisou criar uma nova rotina para garantir a confiança dos pais durante a suspensão das aulas.
Antes de readaptar as práticas pedagógicas, Krug teve de tomar uma rápida e certeira decisão – aderir aos procedimentos de isolamento e garantir que 80 treinadores canadenses retornassem em segurança ao país de origem antes que a doença escalasse e os aeroportos fossem fechados. Desde março, esse grupo de especialistas realiza treinamentos remotos - um formato que tem funcionado bem, segundo Krug.
Em seguida, dedicou-se ao desenvolvimento de materiais de apoio e práticas pedagógicas para transformar e engajar mais de 25 mil famílias com filhos que estudam na Maple Bear. “A escola nunca fechou, somente os prédios foram fechados e nos organizamos numa comunidade digital. Aprendemos que, provavelmente, teremos um modelo híbrido numa eventual retomada. Isso é a educação 2.0”, diz.
SEM SHOPPINGS E MILHARES DE BOLINHAS
Criadora do grupo Amazing, com parques temáticos com proposta pedagógica, como, o Amazing Balls, a empresária Katia Teixeira viu seu negócio sem saída desde o início do isolamento social. Com os shoppings fechados, suas imensas piscinas de bolinhas deixaram de funcionar e ainda devem demorar a reabrir. Além de empresária, Katia é mentora de alta performance - está habituada a inspirar novos empresários e ensiná-los a aprimorar cada produto e serviço que tem em mãos. Entretanto, a pandemia trouxe à ela uma inversão de posições.
"Precisei parar e pensar como criaria o meu próprio dinheiro com aquilo que eu já tinha na minha prateleira - milhares de bolinhas", diz.
Certa de que não estamos em um momento de lucratividade e sim de volume de vendas, resolveu não ignorar sua matéria-prima e gerar receita se utilizando de todo seu recurso investido. Fez o que sempre ensinou: montou um novo produto com o que tinha na prateleira. Passou a alugar piscinas de bolinhas em tamanhos bem menores que as instaladas em shoppings, montou opções para condomínios e assim tem conseguido manter a rentabilidade.
OPORTUNIDADES PARA PROSPERAR
Mesmo em meio a um clima de pessimismo e diante de uma possível recessão econômica já a caminho, os empreendedores acreditam que assim como outras crises, a pandemia do novo coronavírus seja uma oportunidade para tornar todos os negócios mais relevantes e dão algumas dicas simples de serem replicadas.
Não perca o foco - Na opinião de Rodriguez, toda a histeria que se formou em torno da pandemia trouxe uma carga negativa para as empresas - consumidores sem sair de casa, renda em queda, ambientes completamente fechados - mas, é preciso ter foco e criar novas oportunidades. "Mantenha a calma e seja racional para conseguir direcionar os seus esforços e investimentos para o lugar certo e tomar as melhores decisões".
Não fale em crise - Ao que tudo indica, o ‘novo normal’ será completamente diferente e precisaremos mudar a forma de fazer as coisas, destaca Katia. Por essa razão, ela recomenda aos empreendedores que aceitem essa mudança e comecem a trabalhar as perspectivas desse novo cenário. "Não diga a palavra crise para o seu cliente. Mostre a ele tudo de positivo que esse momento trouxe ao seu negócio - novas ideias, novos produtos e serviços, e o mais importante, novas soluções”, diz.