Pesquisas comprovam que a falta de civilidade não é só prejudicial para quem é alvo do comportamento danoso: atitudes grosseiras no trabalho acabam tendo efeito dominó. Ou seja, elas se espalham, se multiplicam e contaminam o ambiente, tornando-o nocivo a todos. O estresse no trabalho é uma realidade que acaba prejudicando a vida de muitos profissionais - e a pandemia da Covid-19 tem agravado o quadro.
Os custos gerados por culturas tóxicas vêm da redução da produtividade e da criatividade, do aumento de doenças físicas e mentais causadas pelo estresse (e consequentes despesas com tratamentos e licenças médicas), e dos gastos com substituição de funcionários (que acabam se demitindo frente a uma situação aguda), elevando o índice de turnover em algumas organizações.
Nos Estados Unidos, estima-se que até 80% dos acidentes de trabalho estão relacionados com o estresse, e o seu custo total é de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões por ano. Em um estudo produzido naquele país, denominado “Does Rudeness Really Matter?: The Effects of Rudeness on Task Performance and Helpfulness”, participantes que haviam sido menosprezados demonstraram uma performance 33% inferior ao resolver um quebra-cabeças, e ao realizar outra tarefa, manifestaram ideias 39% menos criativas. Os que somente presenciaram a atitude grosseira apresentaram desempenho respectivamente 22% e 28% pior nas mesmas tarefas.
Segundo pesquisa da Isma Brasil - representante da International Stress Management Association - 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem alguma sequela ocasionada pelo estresse. Desse total, 32% sofreriam de burnout. E 92% das pessoas com a síndrome continuariam trabalhando.
“Infelizmente, há organizações, ainda, que contratam os “supervendedores” - executivos e outros líderes que apresentam ótimos resultados financeiros, apresar de serem notórios pela grosseria com que tratam os outros”, afirma a Consultora de Comportamento Organizacional e Competência Cultural e Fundadora da Rispetto Consulting Viviane Vicente.
Outro estudo americano comparou, em números, o que um funcionário “tóxico” causa em relação ao que um superstar traz de benefícios para a empresa. A conclusão foi de que o mau comportamento do primeiro neutraliza os ganhos de dois ou mais colegas com ótimo desempenho. Um funcionário “high talent” (e que demonstra comportamento adequado) adiciona uma média de US$ 5 mil de lucro ao ano em termos de produtividade, enquanto que o “tóxico” custa para a empresa cerca de US$ 12 mil por ano. “Isso sem considerar outros gastos com processos legais, baixo moral e clientes descontentes”, esclarece.
Nem sempre as atitudes grosseiras se manifestam por pura vontade de quem as pratica. Poucos são os gestores que agem por maldade, ou que conscientemente nutrem um sentimento de desprezo ou falta de respeito pelos colegas. “Na maior parte das vezes, os comportamentos negativos são gerados por falta de autoconsciência. Falhamos ao não perceber que aquele comentário ou gesto aparentemente inocente ou jocoso está ofendendo, magoando ou, no mínimo, causando desconforto a alguém”, argumenta a consultora Viviane Vicente.
Outros fatores como carga horária excessiva, pressão em cumprir prazos e metas e a urgência de certas funções fazem com que profissionais se expressem rispidamente ou simplesmente ignorem quem está à sua volta. O clima político polarizado, as situações de crise e a amplificação das controvérsias nas redes sociais acabam por agravar esse quadro. “A maneira com que as pessoas se sentem tratadas é que determinará se o comportamento é apropriado ou não”, frisa.
A ideia de que atitudes descorteses se multiplicam se baseia no fenômeno denominado contágio social: somos influenciados pelo comportamento daqueles que estão ao redor, e a tendência é a adoção de comportamentos parecidos.
“O lado bom é que, da mesma forma, atitudes respeitosas e posturas civilizadas também ‘contagiam’: quando recebemos uma gentileza de alguém, nossa tendência natural é de não só nos sentirmos gratos e agirmos de forma recíproca, mas de adotarmos atitude semelhante nas nossas próximas interações”, garante Viviane Vicente.
Evidentemente, algumas atitudes devem ser reportadas aos canais apropriados, e ninguém deve se submeter a um ambiente abusivo. “Uma organização que não demonstra interesse em criar uma cultura de harmonia e respeito não merece você como profissional. Ao mantermos firmeza em nossos valores, nos tornamos menos suscetíveis a imitar comportamentos que não são da nossa natureza”, destaca.
1. Verbalizar provocações diretas (gozações) a membros do time;
2. “Lembrar” os colegas sobre qual é o seu papel na empresa (cargo inferior; função “de menor importância”);
3. Assumir para si o mérito de conquistas da equipe como um todo, ou da ideia de colegas, e culpar os outros quando algo não dá certo;
4. Ignorar ou interromper quem está falando; concentrar-se mais em dispositivos eletrônicos do que nas pessoas ali presentes;
5. Publicamente criticar ou desmerecer o trabalho apresentado por um liderado.