Com o avanço da Covid-19 no Brasil, muitas empresas foram forçadas a colocar seus colaboradores no sistema de home office, para continuarem a produzir as demandas corporativas. Nesse contexto, novas competências e habilidades passaram a ser requeridas, não apenas dos líderes, como também dos liderados, que estão com mais autonomia e responsabilidade. Entre elas, os profissionais precisaram aprimorar o controle emocional e fazer uma consistente gestão do tempo, o que tem sido um dos principais desafios do momento atual, mesmo após mais de um ano do início do isolamento social.
Isso porque o trabalho invadiu os lares, sendo necessário definir limites, a fim de manter a produtividade, aliada ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal. “Se esse gerenciamento não acontece, a pessoa se envolverá em uma situação desgastante, com grandes chances de desenvolver burnout, ou seja, estafa e estresse severos, e realmente adoecer. Situação que impactará nos resultados corporativos, além do próprio bem-estar do indivíduo”, destaca o CEO e headhunter da Prime Talent, David Braga, que já avaliou, ao longo de sua carreira, mais de 10 mil executivos em toda a América Latina.
A dificuldade em administrar o tempo em casa já aparece em pesquisas, como a Digital Consumer Study, realizada em parceria pelas consultorias Nielsen e Toluna e divulgada no final de março. Dedicada a entender as mudanças de comportamento durante a pandemia, revela que o trabalho é a atividade que mais consome a rotina diária dos brasileiros ao longo do confinamento, sendo que 18% dos profissionais gastam mais de 15 horas em obrigações laborais. Outros 23% dedicam entre 10 e 15 horas por dia à empresa. Além disso, manter o expediente remoto após as 22h ganhou mais adesão, passando de 4% dos entrevistados, em junho de 2020, para 8%, em janeiro de 2021. Em contrapartida, o horário para o entretenimento diminuiu no mesmo período.
Diante desse cenário, Braga destaca que, pelo fato de a prática do home office ser nova para muitas corporações e boa parte dos colaboradores, o estabelecimento de uma rotina é mesmo gradual. No entanto, depois de mais de um ano, já se espera que todos consigam organizar suas demandas. “Evidentemente, há ocasiões em que será preciso trabalhar mais do que o planejado, mas isso não pode jamais ser uma constante. Se falamos tanto em busca por propósito, legado e felicidade no trabalho, é incoerente levar uma vida apenas para pagar contas. Conciliar a vida pessoal e familiar é tão importante quanto trabalhar”, argumenta.
E a falta de protagonismo afeta diretamente essa administração do tempo, pois cabe a cada profissional entender quais são os compromissos dentro da empresa e programar as entregas, lembrando que é fundamental a busca pelo equilíbrio. Dessa forma, gerir o próprio tempo e as tarefas é responsabilidade individual, tal qual colocar limites. Assim, é necessário vencer o tabu de que não se pode dizer não ao líder imediato ou ao cliente. Com embasamento, persuasão e apresentação de dados e fatos, é possível definir prazos exequíveis, saudáveis e respeitosos para os dois lados.
Além disso, o CEO da Prime lembra que o cumprimento de horários fixos (8h às 18h), como, geralmente, é exigido no ambiente corporativo, ficou em desuso, sendo possível, agora, conciliar afazeres domésticos do dia a dia e resolver questões pessoais nesse intervalo. No novo cenário, o colaborador precisa gerenciar ainda melhor suas demandas, podendo optar se prefere produzir pela manhã, tarde ou mesmo à noite e finais de semana. “A competência de autogestão nunca esteve tão necessária nesse contexto”, conclui. Por fim, para atingir um grau de planejamento adequado, o profissional deve aprimorar o controle emocional, sobretudo o autoconhecimento. É fundamental que ele entenda quais são as suas principais competências, habilidades, potencialidades e seus pontos a melhorar, para criar uma programação e cumpri-la.