Investir em inovação é consenso. Mas que tipo inovação? Propostas não faltam e ideias surgem a todo tempo. Algumas parecem realmente promissoras. Outras, apesar de conceitualmente interessantes, correm o risco de serem apenas mais sopros de ar em uma bolha prestes a estourar. Considerando que os recursos financeiros disponíveis para apostas não costumam permitir muita margem para erros, empresas e investidores buscam critérios para ter um pouco mais de conforto na tomada de decisão. O diretor da Play Studio Marcelo Nicolau , que faz consultoria de Inovação e Venture Builder, faz uma lista de algumas diretrizes para apostas mais assertivas.
Essa orientação é trabalhada de uma forma detalhada no livro ‘Diffusion of Innovations’, obra de referência sobre o assunto, escrita pelo sociólogo Everett M. Rogers. Para permitir que os líderes tenham uma visão mais clara sobre as reais possibilidades de uma ideia, ele sugere que o assunto seja observado sobre cinco ângulos distintos que são:
1) Vantagem Relativa
É a percepção do grau de superioridade da inovação em relação às opções disponíveis. Essa superioridade pode se dar através de economias adicionais, prestígio social, grau de conveniência, entre outros. Alguns estudos revelam que a percepção de superioridade de uma nova solução deve ser de 5 a 7 vezes maior que as disponíveis. Somente uma vantagem significativa motivaria usuários a considerar uma mudança de hábitos criados em relação a opções anteriores.
2) Compatibilidade
É o grau de compatibilidade da nova solução com o contexto de seus potenciais usuários. Esse contexto pode ser traduzido nos atuais valores, experiências, necessidades e hábitos existentes em um determinado mercado. Uma ideia que não se adeque à atual rotina, normas ou valores de um determinado contexto social terá mais dificuldade de ser adotada rapidamente e irá necessitar de um dispêndio maior de recursos para reeducação dos usuários.
3) Complexidade
É o grau de dificuldade percebida em uma determinada solução. Essa dificuldade pode se manifestar na compreensão da solução ou na utilização de suas principais funcionalidades.
Novas ideias que são simples de compreender e utilizar são adotadas de forma mais rápida do que inovações que requerem um maior esforço no desenvolvimento de novas competências, habilidades ou interpretações. A baixa penetração de uma série de produtos financeiros, como certos tipos de investimento, é muitas vezes causada pela percepção de complexidade da oferta, o que causa insegurança a muitos usuários.
4) Facilidade de Experimentação
É a facilidade com a qual o usuário pode experimentar uma nova solução antecipadamente. Esse teste é geralmente realizado de forma temporária antes da decisão final sobre a adoção de um novo produto ou serviço. Soluções que podem ser experimentadas através de testes grátis, amostras de produtos ou vouchers de descontos ajudam a minimizar as incertezas de potenciais usuários através da experiência concreta com a oferta em questão.
5) Observabilidade
É a clareza com a qual os benefícios de uma inovação podem ser observados pelos usuários potenciais. Essa clareza é manifestada através de resultados visíveis, concretos e de fácil observação. Quanto mais fácil for para potenciais usuários ver os resultados de uma determinada inovação, mas convincente e impactantes serão as vantagens e, consequentemente, maior a probabilidade de adoção.
Tipos de inovação que sejam percebidos com maior vantagem relativa, compatibilidade, facilidade de observação, observabilidade e menor complexidade possuem maiores chances de sucesso. Historicamente, este tem sido o caminho trilhado pelas maiores taxas de adoção de novidades em seus mercados. Sem critérios baseados no que funciona ou não, pode ser que a própria aplicação de esforços em falsas inovações se transforme em uma espécie de contingenciamento invisível destes recursos.