A pandemia de Covid 19 acelerou e consolidou um conjunto de tendências que já estavam previstas no horizonte da economia e levou as micro e pequenas empresas a um processo de intensas mudanças. Forçados pela crise, os empreendedores precisaram repensar os seus modelos de negócio, digitalizar suas vendas e otimizar sua produtividade. Para 2022, o cenário ainda é de cautela, embora exista uma tendência de crescimento, em especial em alguns segmentos mais seriamente atingidos pela pandemia, como turismo e economia criativa. Essas foram algumas análises feitas pelo economista José Roberto Mendonça de Barros e pelo presidente do Sebrae, Carlos Melles, durante o debate online promovido pelo Jornal Valor Econômico, na noite desta quarta-feira (3). O objetivo da live foi debater o tema “Pequenos negócios: cenário econômico e desafios para 2022”.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, foi possível observar, na crise provocada pela pandemia, a capacidade de reação das micro e pequenas empresas. “Diante das medidas de lockdown, os empresários saíram em busca de soluções para manterem as empresas em operação. Muitos descobriram oportunidades fora do segmento em que atuavam, outros apostaram na internet e no delivery”, comenta. “Em 2020 e 2021 nós vimos um crescimento acelerado da digitalização e do trabalho à distância, que ampliou a fragmentação do trabalho, abrindo novas oportunidades para microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas”, diz o economista. Mendonça de Barros destacou a importância das medidas adotadas em 2020 pelo governo pela retomada da economia. “No ano passado houve uma recuperação a partir de julho, agosto... bastante significativa na atividade econômica e na atividade dos pequenos negócios. Foi relevante o auxílio de R$ 600 que, no auge, chegou a ser pago a 67 milhões de pessoas. Outros programas aliviaram o peso das empresas e nós também tivemos uma expansão do crédito, do mercado dos pequenos empréstimos”, rememora.
Ao olhar para 2022, Mendonça de Barros alerta para um cenário que vai exigir ainda mais atenção de todos. Segundo o economista, o custo da energia (combustíveis e eletricidade), somado ao crescimento da inflação e à valorização do dólar, com a consequente alta dos juros, cria um ambiente que exige enorme cautela. “É importante conduzir as empresas de forma conservadora e trabalhar com foco na excelência operacional e na otimização dos custos do negócio”, avalia. Ele acrescenta que a realidade tende a ser bem diversa, com alguns setores sendo favorecidos por condições específicas, como o agronegócio, o turismo e a economia criativa. “A perspectiva de boa safra, juntamente com a ampliação da cobertura vacinal, nos leva a acreditar na melhora desses segmentos. Mas, no quadro geral, a recomendação é de cuidado, para que não se percam os resultados que muitas empresas alcançaram com um alto custo”, acrescenta o economista.
O presidente do Sebrae, Carlos Melles, destacou a importância do trabalho feito pela instituição e pelo governo federal no apoio às micro e pequenas empresas durante a crise. “As pesquisas mostraram, no primeiro momento da pandemia, que praticamente todos os pequenos negócios sofreram perdas significativas de faturamento. Nesse contexto, foram cruciais medidas como o auxílio emergencial, a criação do Fampe e a flexibilização das regras trabalhistas para conter as demissões e o fechamento de empresas”, comenta. “O Sebrae procurou estabelecer diversas parcerias para disseminar a digitalização, ampliar o acesso ao crédito e qualificar os empreendedores”, diz o presidente do Sebrae. Para dar continuidade a esse trabalho, Melles cita novas iniciativas que estão sendo desenvolvidas pela instituição junto a grandes marketplaces como Magalu, Amazon, Americanas e Mercado Livre, criando novos mercados para as micro e pequenas empresas; além de ações junto às gestões municipais de todo o país para estimular a prioridade aos pequenos negócios nas compras públicas das prefeituras. “No âmbito da inovação, o Sebrae tem fortalecido o trabalho dos Agentes Locais de Inovação, além de programas como o UP Digital e o Sebraetec, que ampliam o acesso dos empreendedores à inovação. Queremos ampliar a produtividade e competitividade das micro e pequenas empresas, o que será crucial em 2022”, acrescenta Melles.
Carlos Melles destacou ainda a importância do Simples Nacional, que garantiu um conjunto de benefícios às micro e pequenas empresas do país. “O Simples, a Lei Geral da micro e pequena empresa e o microempreendedor individual foram ações fundamentais que contribuíram com a formalização da nossa economia e asseguraram aos donos de pequenos negócios a sua cidadania como empreendedores. Graças a esses instrumentos, nós pudemos trazer milhões de brasileiro para a formalidade, mesmo nesse cenário adverso”, comemora Meles. Ele comenta que pesquisas feitas pelo Sebrae apontam que aproximadamente 50 milhões de brasileiros que ainda não empreendem, pretendem abrir uma empresa nos próximos anos. “O empreendedorismo será a saída da crise para milhões de brasileiros”, diz o presidente do Sebrae. “Mas é preciso qualificar e apoiar esses novos empresários nesse momento tão delicado”, ressalta.